sábado, 23 de agosto de 2008

UM BUQUÊ PRA QUÊ?

Cecília acordou sobressaltada. Isso já acontecia desde a data do noivado. Era véspera de seu casamento e não se sentia feliz por algum motivo. Talvez não estivesse pronta, talvez não fosse à hora, talvez não fosse a pessoa certa. A verdade que ela o amava e muito. “Por que isso, meu Deus?”. Provou o vestido pela última vez. A família estava em pavorosa com a festa, o bufê preparado, a igreja decorada.

O dia do casamento chegou. A Igreja em silêncio, pois há muito tempo não se via uma cena desta natureza. A mãe chorava; o pai, impávido não mexia um músculo de quer; Cecília no altar, solitária, carregava com firmeza o buquê e olhava fixamente as portas da igreja, esperançosa. O noivo não veio.

- Poderia continuar, por favor!

- Senhora, mas o noivo...

- Poderia continuar, por favor – Cecília insistiu.

O padre baixou a cabeça e disse:

- Não posso. Desculpe!

Cecília olhou fundo nos olhos do padre e esboçou um sorriso. Desceu o altar calmamente e caminhou pelo corredor da igreja coberto de flores. As marcas de seus sapatos perolados fixavam-se. Ninguém tencionava olhar para a noiva, (tudo era tão vergonhoso!), mas Cecília olhava para todos, que estavam de cabeças abaixadas, apenas depois que a noiva atravessou era possível ver da rua as cabeças esguichadas à espera dos próximos passos de Cecília. Seus passos lentos eram comoventes. Ao chegar à porta da Igreja, Ceci, de costas, jogou o buquê, porém não havia ninguém para apanhá-lo. Caiu no chão despetalando-se e lá ficou.

Já em casa, trancada no quarto de princesa que seus pais com cuidado construíram. Novamente ela se viu no espelho e compreendeu a angústia de antes; agora estava tudo acaba e ela aliviada. O pesadelo acabou.

Sentada defronte à sua imagem ela retirou o véu, a maquiagem delicada de noiva, desprendeu os cabelos loiros e assim permaneceu por meia hora. Retirou o vestido branco e arrumou-o cuidadosamente sobre a cama. Nua, deitou-se na banheira com os olhos fechados imaginando um lugar perfeito. Lentamente desceu até que a água cobrisse por inteiro seu rosto. Lá permaneceu. Sobre o espelho da penteadeira, escrito a batom, uma última mensagem: “Felizes são aqueles que sabem aproveitar a vida. Quando isso se acaba, a vida também se esvai. Ass. Cecília”.

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