segunda-feira, 24 de maio de 2010

Matilde e Eu

Matilde entre pela casa desesperada
Agrediu Deus e sentou para o café da manhã,
junto com o diabo
Ela disse para mim certa vez: "O que há de estranho, estranho?"
Fiquei sem saber o que dizer.
As vezes as palavras se escondem de mim
Bem dentro da minha mente.

Matilda foi dormir 3 horas da tarde
ela não tinha sono, mas queria ficar acordada de madrugada
Buscava sexo de desconhecidos e desejava morrer de orgasmos
Ela disse para mim certa vez: "O que há e novo, menino?"
eu apenas disse: "Sei lá! Nada, eu acho!"
As vezes as palavras me vem sem sentido
Bem dentro de mim.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O MISSIONÁRIO

Caminho pelas artérias
Abro uma forquilha no teu coração
Navego no azul dos teus olhos e
Me perco no vermelho veneno da tua retina
Espelho-me nela e reconheço todas as rugas
E marcas da minha face
Examino o diagnóstico
Faço um mapeamento do teu amor
Como se fosse um caminho
E eu um missionário, um andor do íntimo
Eu te descobrindo
Eu abrindo caminhos

terça-feira, 18 de maio de 2010

CONFISSÕES INSONES

Nessa cidade não há lua. A única forma celeste que posso ver está dentro da alma da minh'alma e ela se encontra tão escondida como uma agulha no palheiro, ou como uma criança maltratada se escondendo do padrasto. Também gostaria de me esconder ou pelo menos esconder a tristeza que assola meus pensamentos. Desejaria expulsar a fagulha de felicidade que insiste em viver aqui dentro, assim as pessoas poderiam me ver com olhos menos penosos. NÃO DÁ! NÃO DÁ! NÃO DÁ! EU JURO QUE TENTO, MAS NÃO DÁ! como se algo amarrasse a felicidade, como se um chumbo a prendesse na parede do sofrimento. Minha vontade é de cortar os pulsos, cordar os cordão umbilical da vida e passar para um estado de sem-nada. Ou quem sabe nascer de uma placenta com mais sorte. Vou dormir! pelo menos tenho a esperança que o dia de amanhã seja ensolarado.

CONTO

O CONTO QUE APRESENTO, TÉTRICO DEMAIS, SURGIU EM UMA NOITE QUENTE DAQUI DE BELÉM. ESCREVI PENSANDO EM MEU PAI. CONFESSO QUE PARI A HISTÓRIA COM DOR. MUITA DOR. DEIXEI QUE MEUS SENTIMENTOS SOBREVOASSEM SOBRE O DESEJO DE ESCREVER E COMO RESULTADO SURGIU ESSE CONTO. GOSTO DELE E AO MESMO TEMPO TEMO ELE. A TRISTEZA ME AFUNDA TÃO PROFUNDAMENTE QUE TUDO SE TORNOU ESCURO E SEM VIDA.

TÉTRICO DEMAIS

O mundo acabou naquela tarde. Acabou para mim. Simplesmente acabou. Olhei minhas mãos e senti como se o destino estivesse conspirando contra mim. Cada linha, cada traço representava algo tão assustador e triste. O que seria de mim, meu Deus?! Abri o guarda-roupa mesmo sabendo que não havia roupa para usar. Não possuía terno, não gostava de roupas daquela cor e meus sentimentos em frangalhos não permitiam que eu pensasse em improvisos. A dor corroia minh’alma e por um momento tive ânsia de vômito. Algo querendo sair, querendo se desprender do meu corpo, querendo correr, querendo gritar... uma súplica muda. Ninguém me ouvia a não ser eu mesmo. Como pode dor da alma provocar dor no corpo? Eu me sentia assim, nesse estado de semi-vivo, um verme, um quase-nada.
Andei pela cidade, não, eu cambaleava, às vezes, flutuava. Estava rodeado de gente, mas para mim todos eram desconhecidos, mesmo que em toda a minha vida essas pessoas estivessem o tempo todo em casa, filando nossa comida, fofocando histórias...batiam em meu ombro e me olhavam com olhos semicerrados, as pálpebras caídas, cálidas; e eu observava os lábios se mexerem, porém eu não ouvia nada, absolutamente nada. Segurava aquele objeto com firmeza e a todo o momento eu tropeçava, minto, eu na verdade tropeçava em meus pensamentos mais íntimos.
O sol naquela tarde fazia arder minha pele, como se ele estivesse brilhando somente para mim e por mim. Desejei água, minha boca estava seca, mas para quem pedir e como pedir? As palavras sobrevoavam minha cabeça (quanta dor de cabeça!) sem que eu soubesse como usá-las. Desejei que algumas daquelas mulheres idosas ao meu lado fosse uma espécie de cigana, uma sensitiva, e pudesse ler meus pensamentos, trouxesse um copo com água e matasse o que estava me matando. Tudo era impossível. Continue caminhando disfarçando meu desconforto de tudo aquilo.
Cheguei ao local e paralisei. Meus pés não se moviam. Havia chumbo em meus tornozelos. Alguém segurou meu ombro e apertou forte. Desejei que esse homem fosse meu carrasco. Desejei que decepasse minha cabeça para que eu parasse de pensar, parasse de sofrer. Caminhei lentamente. O ar daquele lugar ficou frio, mesmo como todo o calor que fazia naquela tarde. Ouvi vozes estranhas, gente falando coisas bem perto do meu ouvido. Olhei ao redor, mas ninguém falava, pelo menos o que eu escutava. Agora uma canção, uma canção tão triste que a alma da minha alma desfaleceu naquele exato instante. Tornei-me tão leve que tive a sensação que poderia voar, um peso saiu do meu corpo e o sangue desceu para as palmas da minha mão.
Vi aquele buraco e tive o ímpeto de me jogar naquele abismo. Eu sempre sentia isso quando estava em lugares muito alto, como se algo me chamasse para o fundo. Novamente uma mão tocou o meu ombro, novamente desejei que fosse meu carrasco empurrando-me para a forca, contudo, ele queria apenas evitar outra tragédia.
Larguei o objeto com muita resistência. As cordas envolviam aquela enorme caixa como meia dúzia de raízes, e, com cuidado, pousavam-na no fundo barrento daquele lugar fechado. Fechei os olhos e vi, juro que vi: eu caminhava por um lugar sem horizonte, escuro. A fila era de desnutridos, seres quase inumanos. A pele apenas cobria os ossos sem carne, alguns escarravam insetos como moscas e vermes. Aqueles que não resistiam, caiam ao chão, logo eram empurrados para um abismo sem fim. Seu grito ecoava lamuriosamente, mas ninguém dava importância. Abri os olhos e gritei. Alguém segurou meu ombro e apertou com força, desejei que fosse meu carrasco, que me prendesse em sua cadeira, encapuzasse-me e deixasse que a enorme carga elétrica transpassasse meu corpo. Mas não era possível. Fechei os olhos novamente, na esperança que a visão anterior se esvaísse e desse lugar a outro sonho, aconteceu: tudo era luz. Uma sensação indescritível de felicidade tomou conta completamente de mim. Abri os olhos e não compreendi porque todos estavam chorando e com o rosto sofrível. Dei-me conta do real angustiante e depressivo que vivia. Eu não choro. Por que eu não choro? Gostaria de chorar, mas ele não vem. Sinto dor, mas ele não vem. Estou triste, mas ele não vem.
Voltei para casa e antes de entrar uma mão pousou sobre meu ombro e apertou com firmeza. Desejei que fosse meu carrasco, que me prendesse em uma câmara de gás e deixasse que o ar envenenado preenchesse meus pulmões fazendo sufocar a vida, fazendo sufocar os sonhos, fazendo sufocar a dor de uma única vez. Tive coragem e levantei os olhos. Aquela mulher vestida de preta nunca esteve tão feia pra mim. Ela tinha os olhos fundos, seu rosto estava envelhecido e aquela luz que sempre emanava, como uma aura, havia sumido tão de repente. Ela me abraçou e voltou a chorar. Era ela que sempre tocava meu ombro, era ela que sempre me fazia desejar a morte. Impossível. Levantou-se e se sentou junto às muitas pessoas que enchiam a sala de nossa casa.
Olhei a escada e algo me atraía, algo em impedia a subir. Estava diante do quarto. Abri a porta e senti um ar úmido. Fechei as janelas. Corri os olhos pelo lugar e com uma saraivada de pensamento tudo veio à tona. Eu acordara, eu finalmente acordara de meu transe. Sentei na rede de meu pai, toquei o lugar em que por tanto tempo ele repousou seu corpo cansado do trabalho pesado. Abri o guarda-roupa e o cheiro de seu corpo tocou meu espírito tão fundo que desejei sumir. Finalmente eu chorei, chorei tudo aquilo que não conseguia chorar. Eu gritei, gritei tão alto que todo o planeta acordou. Eu engolia as lágrimas, eu agarrava o invisível, eu socava o nada. Algo dentro de mim não queria parar, não queria deixar de remoer dentro do meu estômago. Eu soluçava agarrava todas as coisas ao redor como um relicário. Eu sabia chorar. Eu sabia chorar. Eu podia sentir. Eu morri ali mesmo. Eu juro que morri.

Para meu pai.
Bruno Sérvulo

segunda-feira, 17 de maio de 2010

vida vadia

Hoje, meu dia foi estranho. Ao entrar no ônibus lotado, típico daqui de Belém, eu vi aquele homem e fui fraco por um momento. Ele se arrastava com uma muleta e com a voz fraca pedia dinheiro aos passageiros. A voz era tão falsa quanto sua perna. Eu sabia que tudo ali era uma mentira. Dei uma moeda de 1 real para ele, não porque estava me enganando, mas por que ele estava se enganando. Senti pena! Voltei pra casa e meu quarto estava uma bagunça. Livros de um lado, filmes do outro e roupas espalhadas pelo chão. "Minha vida está relaxada" eu pensei. Quando nosso ambiente está bagunçado, com toda certeza o coração também. Tratei de arrumar tudo, antes que minha mãe entrasse e soltasse a avalanche de broncas. Dormi a tarde e não me lembrei do sonho que tive, mas acho que não foi bom, pois acordei sobressaltado e suado. Lembrei-me que precisava escrever urgentemente um artigo e que ainda por cima tinha que preparar uma apresentação para o mestrado. Adoro estar preguiçoso, mas odeio saber que eu sinto preguiça. Acho que todo mundo se sente da mesma forma. tratei de escrever alguma coisa para amassiar a consciência, mas tudo que escrevi se tornava uma grande bosta. Que saco! A vida devia acabar em 24 horas...assim a gente poderia recomeçar tudo no outro dia sem a cobrança das coisas que deveria ter feito e não fez no dia anterior. Como não é assim...paciência...seguimos em frente nesse absurdo.

SAUDADE

A porta aberta me faz ver coisas sem querer
A minha cara nua e crua
As lembranças são como folhas rasgadas
No meu diário de verdades
Nesse caminho só se passa uma vez
Os passos que eu dou não voltam atrás
A lágrima é como a fenda cortada de uma só vez

Teu perfume forte no meu casaco,
As marcas do teu beijo,
Ou o barulho do teu salto alto
São facas cortando meu peito
Às vezes eu só desejo

A saudade me consome insone
Nem mesmo que eu durma, sonhe...
Não se rompe, não some.
Aquela dura lembrança
Só peço que ela me abandone

A porta aberta me faz ver coisas sem querer
Aparece na hora errada
Deixo a novela, eu desligo a tv
Te falo palavras ingratas, vivo a te humilhar
Minhas injúrias são nada
Peço sossego, quero descansar

A saudade me consome, esse ser insolente
Nem mesmo que eu durma agarrando a tua blusa
Eu acordo depressivo, insuportavelmente
Parecendo menos gente.
Ela é a saudade me matando lentamente.

IMPUNEMENTE

Impunemente eu desejei sorrir para o diabo

E acender uma vela para os santos

Impunemente eu busquei pelas gavetas

Uma chave para as palavras do coração

Eu desci o degrau da insatisfação

Eu deixei meus modos, cheguei ao fundo,

Dormi numa escuridão

Eu rasguei as roupas e guardei os botões

Eu brinquei com os fatos, eu morri

Impunemente eu joguei minhas ações

Para você eu escrevi tantas canções

Impunemente a tua alma insolente machucou meu coração

Impunemente eu atei os pontos, tentei reaver

Mas tua ação é mais forte que a força dessa oração

E mesmo impunemente eu rasguei o véu

Eu arranquei um pedaço do céu

Deixaste-me de lado e o que sobrou foi o anel