terça-feira, 18 de maio de 2010

Cheguei ao local e paralisei. Meus pés não se moviam. Havia chumbo em meus tornozelos. Alguém segurou meu ombro e apertou forte. Desejei que esse homem fosse meu carrasco. Desejei que decepasse minha cabeça para que eu parasse de pensar, parasse de sofrer. Caminhei lentamente. O ar daquele lugar ficou frio, mesmo como todo o calor que fazia naquela tarde. Ouvi vozes estranhas, gente falando coisas bem perto do meu ouvido. Olhei ao redor, mas ninguém falava, pelo menos o que eu escutava. Agora uma canção, uma canção tão triste que a alma da minha alma desfaleceu naquele exato instante. Tornei-me tão leve que tive a sensação que poderia voar, um peso saiu do meu corpo e o sangue desceu para as palmas da minha mão.
Vi aquele buraco e tive o ímpeto de me jogar naquele abismo. Eu sempre sentia isso quando estava em lugares muito alto, como se algo me chamasse para o fundo. Novamente uma mão tocou o meu ombro, novamente desejei que fosse meu carrasco empurrando-me para a forca, contudo, ele queria apenas evitar outra tragédia.
Larguei o objeto com muita resistência. As cordas envolviam aquela enorme caixa como meia dúzia de raízes, e, com cuidado, pousavam-na no fundo barrento daquele lugar fechado. Fechei os olhos e vi, juro que vi: eu caminhava por um lugar sem horizonte, escuro. A fila era de desnutridos, seres quase inumanos. A pele apenas cobria os ossos sem carne, alguns escarravam insetos como moscas e vermes. Aqueles que não resistiam, caiam ao chão, logo eram empurrados para um abismo sem fim. Seu grito ecoava lamuriosamente, mas ninguém dava importância. Abri os olhos e gritei. Alguém segurou meu ombro e apertou com força, desejei que fosse meu carrasco, que me prendesse em sua cadeira, encapuzasse-me e deixasse que a enorme carga elétrica transpassasse meu corpo. Mas não era possível. Fechei os olhos novamente, na esperança que a visão anterior se esvaísse e desse lugar a outro sonho, aconteceu: tudo era luz. Uma sensação indescritível de felicidade tomou conta completamente de mim. Abri os olhos e não compreendi porque todos estavam chorando e com o rosto sofrível. Dei-me conta do real angustiante e depressivo que vivia. Eu não choro. Por que eu não choro? Gostaria de chorar, mas ele não vem. Sinto dor, mas ele não vem. Estou triste, mas ele não vem.

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